alimentar consciências | Paulo Estoura

Mais do que uma ideia POLÍTICA de manutenção de regras…é uma ideia humana de preservação de vidas e consciência cívica!! Não culpem qualquer governo ou ação !! De norte a sul do país o confinamento foi recebido com passeios ao ar livre numa apoteose de tenho de respirar…. porque em casa sinto o coração a palpitar a liberdade e um direito que me assiste, a economia no Algarve vai sofrer... e outros tantos blás !   Lá se foram as cantorias nas varandas de apoio ao médico que cuidava, ao doente que sofria e a todo aquele que um ente perdia.  Os portugueses tem sofrido muito, dizia alguém hoje. Tem sofrido sim…do ginásio que não vão,  da dança que não fazem, da festa que não participam, da cerveja que não bebem, do bar que não frequentam, do jogo que não assistem, dos caracóis que não comem, dos amigos que não encontram ou dos passeios de jogging que não fazem.    Não podemos ficar muito tempo isolados que fica tudo aparvalhado. É um sofrimento da treta. Uma heresia que ne

Experiências que nos fazem Humanos | Lena Muniz

A calda vermelha, lisa, quente precipitada pelo queijo recém saído do forno, fumegante.

O cheiro que invade a cozinha disputa  agora gentilmente o espaço com o aroma da calda da romã açucarada e cozida no vinho do porto.

Os meus olhos acompanham a calda escorrer pelas bolhas que vão ficando cada vez mais calmas e exaustas.


O som das bolhas é adorável.


É preciso esperar antes de provar, muito quente queimaria a língua e impediria que os sabores pudessem ser percebidos em toda a sua potência.


Com um garfo… troco olhares de cumplicidade, já posso puxar o queijo com uma invasão da calda, sente-se o aroma mais de perto, com olhos fechados, agora é a textura lisa e derretida que tenta escapulir do garfo, é preciso levar à boca.

Encosto aos lábios para sentir a temperatura, lambo-os  para adivinhar o que vem, coloco na boca e sinto tudo acomodar-se, o salgado invade primeiro todas as cavidades , depois a doce e a acidez dançam.


É bom.


Quero saber o que o outro sente.

É bom?

Como é?

Descrevemos um ao outro.


Seria bom que nunca acabasse o momento mágico festivo de acrescentar a saliva, de mastigar e engolir e ser engolida pelos sentidos.


Calma.

Prazer.


A experiência erótica aguça os sentidos e faz com que todo os corpos em contornos, reais ou imaginários, sejam protagonistas.

 

Não é necessário consumar o ato sexual para ter uma experiência erótica e a cerimônia libidinosa envolve estimular a imaginação para que os corpos despertem e os sentidos atuem em toda a sua potência.


Experiências que nos envolvem e por isso somos humanos.


Comemos pois queremos sentir prazer e se queremos prazer, criamos fantasias e permitimos imaginar: os fluxos sanguíneos ativam-se no cérebro.


Para Espinoza, um encontro entre dois corpos deve criar alegria e um encontro pode ser feito de alguém e as palavras de alguém, dois alguéns, entre um olhar e um sorriso, entre um vinho do porto e romãs e entre a poesia e o mundo que a recebe.

A alegria gerada seria então como a polpa que envolve as sementes de romãs e preenche seu interior, dando brilho e suculência à vida.