Difícil é,
por onde começar, quando o tema é comer.
Pelo
princípio?
Não existe.
Existem
tantas formas de comer ou de não comer.
Começo por
explicar que falo do hábito de ingerir alimentos e não de outras conotações que
a palavra possa ter...
- Comer com
os olhos - ter mais olhos que barriga.
- Comer por
vício - para compensar tristezas
- Comer
saudavelmente - o mais indicado, se não ultrapassar a fronteira do exagero, a
ortorrexia
- Comer
sustentavelmente - seja pela pegada ecológica, seja por motivos de consciência
quanto à indústria alimentar relativamente à produção em massa que implica
submeter os animais a sofrimento
-Comer para
sobreviver - infelizmente para grande parte da população mundial que vive
em condições de miséria
-Comer o
mínimo pela imagem - eufemismo para a anorexia
-E... Comer
por prazer - fundamental.
Sempre gostei
de comer.
Lembro-me
bem de certos paladares de quando era criança, o pão quente com manteiga
até ficar de barriga cheia, o bolo acabado de fazer sábado à tarde pela minha
mãe, a feijoada ou o cozido delícias também de fim de semana entre outros.
... Os
temperos das minhas avós.
O chocolate
é a hiperestesia do paladar, para mim.
Abertamente
vos digo que apesar de gostar de comer, fui anorética,
não na
adolescência, quando todos julgam ser mais vulgar.
Não
interessamos motivos.
A base é
comum, começamos por querer emagrecer, e quando a força de vontade é
muita,
descontrola-se
a noção da imagem corporal, porque se quer perder mais e mais peso.
Pesam-se
alimentos.
Espalha-se
comida no prato, quando em família ou entre amigos.
Contam-se
calorias, todos os dias.
A meta é
comer e pesar cada vez menos.
Perde-se o
apetite, totalmente.
Comer passa
a obrigação para manter os sinais vitais.
E
,curiosamente, a energia é inesgotável.
Ultrapassei
a doença, há anos, e agora olho para trás e não me reconheço.
Mas se
ajudar alguém com o testemunho aqui fica.
Nem 8 nem 80,
em tudo na vida.
Extremismos
levam a atos irracionais,
comer
sustentavelmente com fundamentalismo também implicaria deixar de comer.
as plantas
também são seres vivos, e existem tantos fatores nos bastidores da indústria
alimentar que desconhecemos, mesmo no que julgamos ser de origem orgânica, que
se seguirmos este caminho corremos o risco da obsessão.
Com peso e
medida, em tudo na vida.
Infelizmente,
não podemos resolver o problema da fome no mundo, podemos apenas ajudar.
Mas podemos
olhar para o nosso comportamento alimentar, e compreender se algo está errado.
- Se o
pacote de bolachas devorado no sofá é sinal de falta de um aconchego.
- Se
conseguimos melhorar alguns hábitos alimentares, de forma a conciliar a
promoção da saúde com a satisfação do paladar.
Criar novas
rotinas alimentares e quebrá-las, de vez em quando.
Porque somos
humanos, e o prazer de degustar é importante, não só por fazer bem à alma, mas
porque por acréscimo faz aumentar as endorfinas que estimulam o sistema
imunitário.
Voltando a
falar na primeira pessoa, através do mindfulness, aliado à curiosidade
sobre alimentos saudáveis, fui redefinindo a minha forma de comer.
Quando como,
penso no que estou a comer e como é boa a sensação nas papilas
gustativas.
Atenção
plena pode e deve ser aplicada a todos os nossos sentidos...
É uma forma
de reduzir a ansiedade , neste mundo onde por vezes circulamos em modo
automático sem darmos conta.
Por mim
falo, dia-a-dia com ritmo frenético, tendência a estar sempre a planear o
momento seguinte.
Importa ter
uma organização básica do tempo, mas a incerteza surge no virar da esquina, e
reforçarmos os nossos mecanismos de coping para uma adequada saúde física e
mental é essencial.
Parar e
pensar.
Parar até de
pensar e olharmos para nós, no que estamos a ouvir, cheirar, tocar, observar,
degustar. A base do mindfulness.
Não me
alongo mais, porque a escrita é um dos meus ikigai, embora não tenha muito tempo
livre.
Mas
aproveitar bem o tempo é um segredo para bem viver.
Assim como
reaprender a comer.
Atualmente,
não me privo de “guilty pleasures”, a intercalar a minha base alimentar, e
orgulho-me disso como ex-anorética.
Como
chocolate preto todos os dias.
Adoro arroz
malandro de feijão com petinga, uma boa francesinha, entre outros “guilty
pleasures”.
Estamos
sempre a tempo de mudar de vida, nas várias áreas da nossa vida.
E mudar a
forma de nos alimentarmos traz benefícios enormes...
...Cada um
pegue no seu guardanapo,
e escolha
bem a sua rota.
@vaniamesquitamachado
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