alimentar consciências | Paulo Estoura

Mais do que uma ideia POLÍTICA de manutenção de regras…é uma ideia humana de preservação de vidas e consciência cívica!! Não culpem qualquer governo ou ação !! De norte a sul do país o confinamento foi recebido com passeios ao ar livre numa apoteose de tenho de respirar…. porque em casa sinto o coração a palpitar a liberdade e um direito que me assiste, a economia no Algarve vai sofrer... e outros tantos blás !   Lá se foram as cantorias nas varandas de apoio ao médico que cuidava, ao doente que sofria e a todo aquele que um ente perdia.  Os portugueses tem sofrido muito, dizia alguém hoje. Tem sofrido sim…do ginásio que não vão,  da dança que não fazem, da festa que não participam, da cerveja que não bebem, do bar que não frequentam, do jogo que não assistem, dos caracóis que não comem, dos amigos que não encontram ou dos passeios de jogging que não fazem.    Não podemos ficar muito tempo isolados que fica tudo aparvalhado. É um sofrimento da treta. Uma heresia que ne

Comer | Crónica de Joana Páris Rito

Quando nascemos, depois de soltarmos o grito inaugural, comer é a primeira coisa que fazemos. Guiados pelos instintos da sobrevivência e da sucção, procuramos o leite da vida no seio materno, cálido fluído de amor que nos aconchega e sustenta. Nos oceanos das palavras dos dicionários, navegam cardumes de termos poéticos, práticos, eruditos, parolos e galhofeiros relativos à comida, ao acto de comer e a quem o pratica: embuchar, presigo, vitualha, manjar, empanzinar, empanturrar, emborcar, pitéu, petiscar, lambareiro, sardanapalo, alambazar, desgorgomilado, alarve, viandeiro, termos que provam a importância do acto de comer, um acto que nos acompanha a existência e sem o qual não existimos. Comer é, desde tempos imemoriais, muito mais do que o mero gesto de levar alimentos à boca e saciar a ditadura da fome.  Ao acto de comer associamos o prazer, um deleite apetecível, tentador, pelo Cristianismo carimbado de pecado, a insaciável gula, um dos sete pecados mortais punido com jejuns, abstinências e outras penitências mais, valha-nos a absolvição do Papa Francisco que, volvidos séculos de castração pantagruélica, gritou ao Mundo serem as práticas sexuais e as prazerosas comezainas dádivas divinas isentas de anátemas. Abençoada seja a omnipresença de Deus na cama e na mesa. Ámen. Comer é um acto impregnado de simbologia. Comer é um acto de amor. Cozinhar também. Ouvimos e concordamos com o dito, Esta comida foi feita sem amor, quando o almoço, a ceia ou o jantar foram a trouxe-mouxe despachados entre tijelas, tachos e gamelas, porque a cozinha é um templo e casar ingredientes envolve as fragâncias crescentes dos perfumistas, a entrega espiritual dos budistas, a perseverança dos escritores, a sabedoria dos dotados e a dedicação dos enamorados. Cozinhar e comer são experiências sensoriais de laivos celestiais, trocas de afectos, motes para juntar familiares e amigos, celebrar efemérides, festejar a vida na partilha. Comer é uma viagem, uma descoberta de sabores, um conhecer outras gentes, outras culturas, outros mundos no Mundo, mundos infindáveis de cores, paladares e odores que nos abrem à vida, ao convívio, à mesa, ao delicioso mundo da gastronomia, um misterioso caminho que percorremos acompanhados, colados às memórias e às sensações da infância, que nos leva a mergulhar nesse manancial de vivências e degustações, um caminho ao qual chamamos, num quixotesco simbolismo, a Rota do Guardanapo.   

@joanaparisrito